É Descobrir e se Apaixonar: Igreja de São João Batista, em Cariacica Sede

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A igreja de São João Batista foi inaugurada em 1851 por frei Civitella di Trento



A série de matérias “É Descobrir e se Apaixonar” convida a todos a conhecerem os recantos turísticos de Cariacica. Toda sexta-feira, uma reportagem destaca uma sugestão para quem quer botar o pé na estrada aqui mesmo no município. Nesta semana faremos uma viagem ao passado, relembrando as origens da cidade, em Cariacica Sede.

Quem vê a bucólica igreja de São João Batista não imagina que foi em volta dela que Cariacica cresceu.  A construção mantém a imagem pacata de uma simpática cidade do interior. Erguida há 163 anos, a igreja foi reformada e continua conquistando quem passa pelo local. É visita essencial para aqueles que buscam conhecer melhor a história de Cariacica.

Localizada na praça Marechal Deodoro da Fonseca, o templo passou por diversas modificações ao longo dos anos. A mais significativa delas foi a construção da torre do sino, em 1948. Desde então, é com o som das badaladas que os visitantes são convidados a assistir a cada missa da paróquia. Logo na entrada, as portas de cedro entalhadas com alguns dos mais conhecidos cenários bíblicos já chamam a atenção. Representada na porta principal, está a imagem de São João Batista, padroeiro do município, batizando Jesus Cristo, em uma obra de arte assinada pelo escultor Dinho Diniz. Os janelões, as colunas, o relógio da praça e todos os outros detalhes pintados em sua fachada a tornam uma parada quase obrigatória.

As missas acontecem às quartas e quintas, às 19h30; aos sábados, às 17h, 18h e 18h30; e aos domingos às 8h, 18h e 19h30



 

No templo,  foi feito um recorte na construção, expondo a estrutura original das paredes, erguidas com pedras e seladas com óleo de baleia e cal. Nas laterais, uma série de quadros, também entalhados em madeira,  aborda a tradicional Via Sacra,  a via crúcis de Jesus. O altar-mor, que um dia já foi todo feito de madeira, é ornado com arcos e colunas, fazendo referência a elementos da arquitetura grega. Os grandes lustres antigos fixados no alto da igreja são mais um aspecto que levam os fiéis a relembrar diversas épocas do passado.

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Seu Wellinho, 74 anos, é vizinho da igreja desde 1949 e ainda mantém a mesma admiração de quando a viu pela primeira vez



Bem atrás da construção, fica o armazém do comerciante Wellington Rosetti, o seu Wellinho, que desde 1949 é um dos admiradores da beleza da igreja. Aos 74 anos, ele revela que não é pouco o número de turistas que passam pelo balcão de sua venda para fazer perguntas a respeito da construção e de outras histórias que a envolvem, que ele não cansa de contar. "Antes, quando ainda funcionava aqui a sede administrativa de Cariacica, esta praça era bem movimentada. Muitas pessoas vinham de fora para resolver alguma questão na Prefeitura ou na Câmara Municipal e se encantavam com São João Batista. Ainda lembro da primeira vez que entrei, quando vim visitar meu tio, que já morava aqui. Onde hoje é o altar, havia um órgão gigantesco, instrumento que nunca tinha visto e nem ouvido até então. Por sorte, pouco tempo depois disso, minha família mudou para cá e pude ficar mais próximo deste monumento", relembra.

Tamanha beleza se reflete na identificação e devoção dos moradores da região. Segundo o pároco da paróquia de São João Batista,  padre Antônio Peroni Filho, só entre os voluntários que tomam conta da catequese, da Eucaristia, dos grupos de liturgia e da secretaria paroquial são mais de 100 pessoas. Isso sem contar com os assíduos frequentadores. "Esta igreja tem uma relação muito íntima e antiga com Cariacica. Os moradores veem nela um traço de sua identidade, fez parte das memórias de infância deles e também das histórias que são contadas na região. Sentar na praça para conversar, descansar sobre a sombra das árvores e assistir a movimentação tranquila das pessoas que passam por aqui é algo muito especial. Traz paz para a gente e acalma. Tudo isso é levado em consideração pela comunidade que tem muito carinho por esse templo", revela.

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As missas são celebradas pelo padre Antônio Peroni Filho, que destaca o carinho da comunidade com o templo



O acesso a igreja São João Batista é bem fácil. A praça é um dos principais pontos da rodovia José Sette, para quem vem no sentido Alto Lage-Cariacica Sede. As missas na paróquia acontecem em quatro dias da semana. Às quartas e quinta-feiras, o horário é às 19h30. Aos sábados, as celebrações acontecem às 17h, 18h e 18h30; enquanto que aos domingos, às 8h, 18h e 19h30. Para agendamento ou mais informações sobre o templo, o telefone é o 3254-1533.

Primeiro templo católico da cidade


O ano é 1837. Tropeiros vindos das regiões montanhosas de Santa Tereza e Santa Leopoldina faziam de um planalto chamado Água Fria, o ponto de encontro de todas as viagens. De fácil associação, o batismo do local se dá por conta de um filete de água cristalina e gelada, que matava a sede dos homens e das mulas de transporte.

No lombo dos animais vinham boa parte da produção agrícola do Estado, baseada no cultivo da cana de açúcar, do milho e do algodão, que eram escoadas por canoas pelo Porto de Cariacica. Com a parada constante dos viajantes, o planalto se desenvolveu e foi elevado à condição de freguesia de São João Baptista. Foi neste local, que antes servia de repouso dos tropeiros, onde foi construída oito anos mais tarde a primeira igreja do que mais tarde viria a ser o município de Cariacica.

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Foto de 1929 registra a igreja de São João Batista e a praça Marechal Deodoro, em Cariacica Sede. Na época, ainda não havia sido construída a torre do sino no templo. Foto: arquivo particular com reprodução de Claudio Postay



A construção foi um marco essencial para a formação da cidade. Tanto é que a obra veio por decreto do Império de D.Pedro I, em 1839, já com o objetivo de que se iniciasse, a partir disso, a urbanização da região. Sem recursos para realizar o projeto, um padre italiano foi designado para a tarefa, a fim de encontrar formas de resolver o problema. Em missão jesuítica pelo Brasil, o frei Ubaldo Civitella di Trento adotou uma solução que vinha fazendo sucesso com, o também italiano, padre Gregório Maria de Bene, em São José do Queimado. Lá, era prometida a liberdade dos escravos, caso eles ajudassem na construção da igreja.

Segundo a tradição oral, lá em São José do Queimado, onde hoje é a Serra, a liberdade que o padre se referia era perante Deus e não perante os homens. Sem a alforria prometida, veio a revolta dos escravos e a Insurreição de Queimado, em 1845. Atento ao motim, o frei Civitella di Trento desistiu de manter o acordo para a construção, em São João Batista, com medo de que os escravos também pudessem se rebelar contra ele.

Assim, durante algum tempo,  a primeira igreja católica em Cariacica ficou apenas com a fundação. Estrategicamente, o frei encontrou uma nova alternativa. Organizou diversas procissões entre os moradores da região e instituiu que cada um deles trouxesse uma pedra, para a construção do templo. A ideia deu certo e, em 1851, a Igreja São João Batista foi inaugurada. De lá para cá, ela continua fazendo seu papel de marco histórico.

Serviço
Igreja São João Batista, em Cariacica Sede
Onde: praça Marechal Deodoro da Fonseca, na rodovia José Sette, Cariacica Sede.
Horários: quartas e quintas às 19h30; nos sábados, às 17h, 18h e 18h30; e nos domingos às 8h, 18h e 19h30.
Informações: 3254-1533