Como identificar em si e no outro sinais de depressão e buscar ajuda

Ao presenciar o sofrimento de alguém próximo, não é raro as pessoas ficarem com receio de não fazer bem o acolhimento e, em vez de ajudar, acabar dizendo algo que vá piorar o sofrimento do outro e dificultar a identificação de um possível quadro de depressão.


Buscar ajuda profissional, de fato, é fundamental. Mas no meio do caminho até lá, há ações que podem trazer algum conforto a quem vive um momento difícil. O psicólogo Charlis Silva Oliveira, do Programa de Saúde Mental de Cariacica, dá orientações sobre como identificar sinais de depressão, em si e no outro, o que fazer e como e onde procurar ajuda.


Depressão não é o único, mas é um dos principais fatores que levam as pessoas a terem ideações suicidas. Por isso, é importante sempre esclarecer sobre o assunto.


O reconhecimento


A mudança de comportamento é um dos principais sinais. “Se a pessoa tinha um jeito mais extrovertido e percebe que ela está mais retraída, isso tem que chamar a atenção. Ou o contrário também. Se a pessoa é mais contida e começa a ficar muito irritada, isso aí pode ser um sinal de alerta”, diz Charlis.


Falas de menos valia, como “que vontade de sumir”, “vontade de dormir e não acordar mais” ou “não sou importante para ninguém” também são sinais. “Muitas vezes a gente tende a achar que é só uma fala, que não representa nada, mas é um sinal”, cita Charlis.


Mudanças no padrão de sono e de alimentação, desânimo e desinteresse também devem ser observados.


A autolesão também é um sinal evidente de que algo não vai nada bem.


O que fazer


Buscar algum tipo de apoio é fundamental. “É muito importante buscar um profissional de saúde mental, um psicólogo, um psiquiatra, um médico. Mas essa não é a única alternativa. Você pode buscar alguém que é próximo a você, alguém com quem você se sinta confortável e tentar expor aquela situação de alguma forma”, sugere o profissional.


Quem está com depressão tem o pessimismo como uma de suas características. Então quando você compartilha esse sofrimento com alguém, pode surgir alguma boa ideia que venha a ajudar.


Se você for o familiar de alguém nessa situação, o ideal é não ignorar. “Suicídio tem um certo tabu em cima disso, e a gente fica inseguro de lidar com o assunto, principalmente quem não é da área. Fica com medo de fazer besteira, falar alguma ciosa errada, piorar a situação. E acaba fingindo que nada está acontecendo”, descreve o psicólogo.


Mostre que você está interessado na história dessa pessoa. Principalmente, ouça. As pessoas ficam com medo de falar algo inapropriado, quando o ideal, naquele momento, é estar preparado para ouvir.


É importante transmitir para a pessoa que ela não está sozinha, transparecer que você se preocupa e que sente empatia por ela. E que reconhece que a dor dela é válida, sem fazer afirmações que desmereçam a dor da pessoa.


O que não fazer


Desmerecer o sofrimento da pessoa. Não dizer coisas como “Eu já passei por coisa muito pior e nem por isso eu pensei em suicídio”, “Isso é frescura”, “Falta de vergonha na cara”, “Depressão não existe”, “Isso é preguiça”, “Isso é falta de Deus no coração”. E nunca desafiar a pessoa com falas como “Que nada, só fala, não faz”.


“Já vi isso acontecer, é muito lamentável. Você tem que ter em mente que a pessoa está sofrendo. Não importa se você sofreria por aquele motivo. Não importa. Aquela pessoa está sofrendo”, afirma o psicólogo.


Importante saber


Não necessariamente toda pessoa com ideação suicida sofre de depressão. E nem toda pessoa deprimida tem ideação suicida. O transtorno mental (depressão) é um fator de risco, mas não determinante.


Muitas vezes uma grande mudança ou acontecimento intenso na vida da pessoa pode ser o triste gatilho para a ideação suicida. “Perdeu emprego, um término de relacionamento, algum conflito familiar, sofreu violência, grupos sociais de minorias que não tem alguns direitos reconhecidos, que tem alguma dificuldade de acesso, também pode ser situação de risco”, lista o psicólogo Charlis.


E, mais uma vez, fica a importância de não relativizar e não minimizar o sofrimento do outro.


Onde procurar ajuda


Em Cariacica, a equipe psicossocial do Programa de Saúde Mental do município atende em quatro unidades básicas de saúde: Bela Aurora, Itaquari, Morada de Santa Fé e Cariacica Sede. Todas as unidades estão preparadas para fazer o acolhimento inicial e o encaminhamento para uma dessas quatro unidades.


É possível também buscar ajuda pelo número 188, do Centro de Valorização da Vida (CVV). Como descrito em sua página oficial, o CVV realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas. Confira no site: https://www.cvv.org.br/