Servidores recebem capacitação de técnica da Seppir

Na última quarta-feira (27) a Gerência de Igualdade Racial ofertou aos servidores e à população o curso de Capacitação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.  As aulas, que tiveram duração de dois dias, foram ministradas pela consultora da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Simone Maria dos Santos. Além de consultora do órgão Simone é doutora em Sociologia e pós doutora no programa de Demografia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).


A temática abordada foi a promoção da igualdade racial nas áreas de saúde, educação e segurança pública. O objetivo principal do curso, de acordo com Simone, é fazer com que o município tenha uma visão das ações que são desenvolvidas no âmbito federal e possa criar suas próprias medidas. Cariacica foi contemplada por fazer parte do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.


Confira abaixo a entrevista com a consultora Simone Maria dos Santos


 


Quais são os caminhos para combater o racismo?


 Temos que ter uma sociedade que seja, no âmbito econômico, mais igualitária, não podemos ter uma sociedade tão desigual, a desigualdade é algo que marca a sociedade brasileira de forma contundente, mecanismos para produzir essa equidade temos várias e um deles é a ação afirmativa. Outro mecanismo é a reforma agrária, porque na verdade nós temos uma grande concentração de terras nas mãos de poucos. Somos um país, ainda, agroexportador e, se nós temos uma grande concentração de terras nas mãos de poucos, nós estamos compactuando com a desigualdade.


Qual a sua opinião sobre as ações afirmativas?


As ações afirmativas não falam de capacidade, elas falam de condições e de equidade, elas são uma forma do governo assumir privilégios que são herdados desde muito tempo. Para que o governo consiga equiparar negros e brancos dentro das universidades, minimamente, ele tem que dar condições a mais para que alguns negros alcancem o mesmo patamar de alguns brancos, porque os negros estão saindo de condições que são desfavorecidas. O governo tem que dar incentivo para que a gente consiga igualdade, nós lutamos pela democracia racial, mas a democracia não é uma realidade, para que ela se transforme em realidade nós precisamos de políticas públicas e as ações afirmativas é apenas um tipo de política pública.


O cumprimento da Lei 10.639/03 também é uma forma de combater o racismo?


Sim. Desde 2003 tem-se essa lei e procura-se efetivá-la, mas nós esbarramos no preconceito religioso que, às vezes, é um impeditivo para que a ela se efetive. Outro impeditivo é a formação dos profissionais da educação, tem que ter uma formação mais efetiva em História da África e História dos Afrobrasileiros, mas acho que isso com o tempo está sendo superado.


A senhora já viveu algum episódio de racismo?


Vários. Para avançar no âmbito escolar primeiro temos que ultrapassar os preconceitos que são introjetados em nós mesmos, precisamos de toda uma rede para que tenhamos a mente aberta para pensarmos que a gente pode fazer, esse é o primeiro preconceito que temos que superar que é o preconceito subjetivo. Depois temos os preconceitos objetivos que são: como eu vou para escola? Com que verba? Todos esses obstáculos eu tive que superar. Eu moro na região metropolitana de Belo Horizonte e um dia tive que ir a pé para a UFMG  porque eu não tinha dinheiro para ir a aula. Vencendo os obstáculos subjetivos foram vencidos também os objetivos. Todos os dias eu enfrento preconceitos. Eu sou professora de um curso de pós graduação e mudaram a secretária, no primeiro dia de aula eu fui com uma roupa mais simples e ela me falou que ainda não era hora de entrar.


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Dados do Atlas da Violência mostraram que, em 2018, negros morreram 4, 5 vezes mais que brancos. O que o Estado tem feito para reverter esse número, sobretudo, o número de assassinatos de jovens?


Dentro do Programa Juventude Viva tem algumas ações que podem ser desenvolvidas, mas primeiro a gente tem que ter a sensibilização e a consciência de que quem mais morre e mais mata são jovens negros, mas por uma questão de vulnerabilidade social, isso tem que ser uma compreensão senão a gente coloca o problema nas pessoas que  estão sofrendo, esse é o primeiro entendimento. O Estado tenta fazer essa parceira no âmbito do Juventude Viva, que são alguns programas que desenvolvem trabalhos para jovens de 15 a 29 anos, esse é um caminho, no entanto, eu acho que a gente tem um longo caminho para trabalhar com a segurança pública, a segurança pública tem que ser trabalhada muito mais no âmbito da prevenção e da repressão qualificada, o Estado tem que colocar isso como mote dentro das políticas.


Contrariando as estatísticas a deputada federal Áurea Carolina está entre os 100 jovens negros mais influentes do mundo na política. Como a senhora recebeu essa notícia?


A Áurea é um exemplo para Belo Horizonte, ela faz um trabalho que é coletivo e isso fortalece, ela utiliza muito bem esses instrumentos novos de mobilização que são as redes sociais, todos esses fatores colaboram para que ela tenha êxito e nós mulheres negras estamos ávidas por representação e ela nos representa como Marielle nos representava.


A Seppir está completando 16 anos. Quais as principais conquistas durante essa trajetória?


A própria Seppir. O fato de existir a secretaria e um sistema que tenta capturar como estão avançando as políticas de promoção de igualdade racial é um avanço, o fato de você ter a possibilidade de vir aos municípios e fornecer instrumentos, não só teóricos, mas caminhos concretos que se possa trilhar para a efetividade das ações é outro fato positivo.