Pereira da Viola: show com ritmo das culturas caipira, indígena e negra

A viola caipira não fica só restrita ao povo da roça. Ela também faz a festa em meio à cultura popular vinda das tradições negra e indígena. A prova está em José Rodrigues Pereira, o Pereira da Viola, cantor, instrumentista e compositor que encerra o 2º Fest Viola - Festival Nacional de Viola, com show em Cariacica Sede, neste sábado (3), a partir das 23h. Verdadeiro ícone do movimento de música de raiz, esse mineiro da Comunidade Quilombola de São Julião (município de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais) vai apresentar um recorte de seus quase 20 anos de trabalho e de arte desvendando a riqueza desses ritmos a partir de sua paixão por esse instrumento genuinamente nacional. "Não poderia ser de outra forma. Como eu nasci dentro da cultura popular, todo o meu trabalho tem essa marca", reforça.

O show, dentro desse conceito, fará, inicialmente, reverência à vida no campo e do cotidiano simples de quem vive lá. "A viola nos remete a um tipo de filosofia de vida da qual tenho orgulho em ter: a postura caipira. Ser caipira não é ser ingênuo, nem aquele matuto, imagem típica do preconceito. É aquele homem ou mulher que tem uma opinião muito firme, sabe se colocar mas que tem guarda respeito pelo outro. Coloca a sua posição sem ofender o outro. E carrega aquele tipo de sabedoria inata diante da vida onde a própria Natureza é a sua fonte", destaca.

Mas a alegria e o desprendimento autêntico das festas e folguedos também estarão garantidos na performance do artista. "O caipira está dentro do que nosso povo faz e festeja. Nas folias de reis, nas congadas, nos reisados, lá está o caipira e, consequentemente, a sua viola. Essa energia boa também vou querer levar para o palco e compartilhar com o público porque só faz sentido quando todos celebramos juntos", afirma. Assim, estarão incluídos momentos de descontração e interação. "A ideia é colocar a gente para brincar de roda, lembrando os folguedos", planeja. Canções como "Roda de Tindolelê", "Dona Mariana", "Menina Flor" não vão faltar.

Carreira

Pereira da Viola não nasceu violeiro. Ele diz que é a viola que escolhe a hora e o momento que quer fazer parte da vida de um artista. "A mística em torno do instrumento é forte. É a viola que te escolhe. Comigo aconteceu lá na Serra dos Aimorés, em Minas, quando eu me arrepiei com uma folia de reis tendo o mestre seu Bráulio no comando e tocando viola. Eu já tocava violão. Me apaixonei por ela e quis seguir esse caminho. Aprendi a tocar sozinho. Tempos depois, descobri que meu avô paterno era violeiro, ou seja, o namoro da família com a viola já vinha de bem antes", relembra.

Numa família de descendentes de indígenas e negros, cresceu num ambiente humilde mas repleto de música. Seu pai, João Preto, era lavrador e também sanfoneiro. A mãe, dona Augusta, era líder e cantadeira das festas de reisado. Aprendeu a tocar violão aos 11 anos. Com 14, começou a se apresentar em shows de calouros, ganhando todas as competições.

Em 1982, influenciado pelas obras de artistas como Dércio Marques, Rubinho do Vale, Titane e Milton Nascimento, passou a compor músicas que retratavam sua história. Em 1986, foi apresentado à viola e se encantou pelo instrumento. Junto com sua primeira viola ganhou de um amigo o apelido, uma homenagem ao músico Paulinho da Viola. A brincadeira acabou lhe rendendo seu nome artístico.

Quando incluiu a viola, Pereira passou a utilizar, simultaneamente, o tampo para percussão, o que deu origem a suas famosas batidas de contra-dança, batuques e voltados-inteiro. Este momento marca o encontro definitivo do trabalho do artista com suas origens. A busca pelas raízes do povo brasileiro e seu envolvimento com os povos indígenas o leva a se apresentar no Acre, Amazonas, Mato Grosso e São Paulo.

Em São Paulo, foi convidado por Inezita Barroso para uma entrevista na Rádio USP - SP. Ela se encantou tanto com seu trabalho que o chamou para dividir palco num show no Teatro Popular do Sesi. Em 1993, gravou seu primeiro disco. Ele tem mais cinco álbuns e um DVD celebrando suas duas décadas de produção que privilegia os ritmos populares.

Além disso, é um ativista pela preservação e reconhecimento da viola como patrimônio cultural do povo brasileiro. Em 2003, Pereira promoveu o Encontro Nacional de Violeiros, em Ribeirão Preto (SP). O evento recebeu 10 mil pessoas e resultou na criação da Associação Nacional dos Violeiros, entidade que busca valorizar a cultura caipira e lutar por melhores condições de trabalho para a categoria. Pereira foi escolhido presidente da Associação, cargo que ocupou até 2008.

Serviço: 

2º Fest Viola – Festival Nacional de Viola

De 28 de novembro a 3 de dezembro, na praça Marechal Deodoro da Fonseca, em Cariacica Sede. Oficinas, shows com artistas nacionais e locais, além de mostra competitiva.

Quanto: gratuito.

Realização: Prefeitura Municipal de Cariacica. Patrocínio do Banestes.

Informações: (27) 3354-5839 e (27) 3346-6342

Programação de sábado (3) 

17h às 19h: Voz e viola e palco livre nos bares de Cariacica Sede

19h30: Mostra Competitiva (final)

21h: Show de Paraná e Piazinho (Pouso Alegre, MG)

22h: Premiação da Mostra Competitiva e Entrega do Título de “ Melhor Violeiro”

23h: Show nacional de Pereira da Viola