Carnaval de Congo de Máscaras: mestres mantêm a tradição centenária em Roda D'Água

Os ingredientes principais são cultura e tradição. Mas tudo temperado com a elegância de Mestre Tagibe, a energia do Mestre Valdeci e a alegria da Mestra Darinha. Esses componentes fazem parte da mistura que forma o Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D'Água, que acontece no próximo dia 17, segunda-feira, dia de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo.


Dezenas de famílias da região levam a cultura centenária adiante e seis bandas da cidade vão participar do evento, que tem o apoio da Prefeitura de Cariacica.



Uma dessas bandas é a São Sebastião de Taquaruçu, regida por Valdeci Ferreira Vieira. Mestre Valdeci tem 69 anos e participa do congo desde os 14. Filho de congueiro, ele recebeu do pai a missão de liderar a banda, que hoje tem 30 pessoas. “Tenho muito orgulho de fazer parte dessa tradição”, destaca.


Herança


Herdar dos antepassados a responsabilidade de não deixar o congo se perder no tempo também é a marca do Mestre Tagibe, nascido há 80 anos e batizado como Itagiba Cardoso. Ele é o griô mais antigo de Cariacica, aquele indivíduo que detém a memória do grupo e funciona como difusor de tradições.


O DNA de congueiro ele recebeu do pai, Mestre Gabiroba, e repassou para o restante dos familiares. Hoje, seis filhos, 11 netos, um bisneto e os sobrinhos formam a banda de congo Mestre Tagibe, que tem 25 componentes.


Muito elegante com seus chapéu e camisa brancos e calça azul, Mestre Tagibe produz casacas e é vice-presidente da Comissão Espírito-santense de Folclore, por meio da qual teve a oportunidade de apresentar o congo para todo o Brasil. “Tenho muito prazer em levar a cultura de Cariacica para que outras pessoas conheçam”, diz Tagibe, do alto de seus 60 anos como congueiro.



Na Banda de Congo Unidos de Boa Vista, quem comanda é dona Maria da Penha Teixeira Martins, a Mestra Darinha. Aos 69 anos, ela esbanja alegria por ser a primeira e única mulher a comandar uma banda de congo de Cariacica, que tem 25 integrantes.


Darinha tem mais de 50 anos de congo e hoje reúne no grupo um dos filhos, sobrinhos, netos, irmãos, irmãs e marido, para levar adiante a cultura que é fortalecida na famílias pelos mestres Carlão, Gaudêncio e Prudêncio.


A festa


A festa Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D'Água também vai contar com dezenas de mascarados, vestidos como João Bananeira, o personagem folclórico que tem o rosto coberto pela máscara e o corpo tapado com folhas de bananeira. O evento contará ainda com vários estandes com venda de alimentos para a população, oficina de confecção de máscaras e exposições.



"O Carnaval de Congo de Máscaras reúne vários mestres que perpetuam a tradição capixaba, que já tem mais de 150 anos. O evento leva lazer, cultura e geração de renda às comunidades ”, avalia o presidente da Associação de Bandas de Congo de Cariacica (ABCC), Jefferson de Azevedo Fernandes.


A comunidade de Roda D’água é um território remanescente de quilombo que preserva suas raízes culturais africanas. De acordo com a história contada na região, negros fugidos da Revolta de Queimados (1849) iniciaram a tradição do congo com seus cantos e tambores.


Maria Zalém, produtora cultural, conta que a tradição do congo ficou perdida durante muitos anos e foi recuperada nos anos 80 por uma turma de jovens, o Grupo de Amigos do Moxuara, também conhecida como Galera de Campo Grande. Eles resgataram o personagem João Bananeira e incentivaram novamente a festa, que nunca mais foi interrompida.