Assistência e Educação promovem formação sobre Erradicação do Trabalho Infantil

“No sinal fechado ele vende chiclete/ capricha na flanela/ e se chama Pelé”. Em 1978 Chico Buarque cantava a canção “Pivete” para problematizar a realidade do trabalho infantil no Brasil. Quarenta e um anos passaram-se e a música continua a narrar um problema dos dias atuais: o trabalho infantil. Para discutir a temática, cerca de 200 pedagogos da rede municipal de ensino reuniram-se para uma formação na tarde desta terça-feira (26).


O auditório da Faesa ficou lotado. Todos, atentos, prestavam atenção em cada ensinamento da juíza do trabalho, Suzane Schulz. “A consciência é fundamental, porque essa consciência que a gente hoje está plantando nessas crianças é o que vai trazer frutos para gente no futuro, porque as crianças são postas para trabalhar aos argumentos dos mitos que já estão implantados na sociedade, mas todos esses mitos estão sendo desconstruídos através da escola”, disse a magistrada.


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Na plateia, além de pedagogos estavam técnicos da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e da Secretaria Municipal de Saúde (Semus). A pedagoga Fabíola Dalgobo atua há 10 anos no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Amélia Virgínia, em Antônio Ferreira Borges, e participou da formação, que segundo ela, foi um momento enriquecedor.


“Foi extremamente importante, uma vez que a gente se depara com situações em que a falta de conhecimento nos faz deixar de resolver determinadas coisas. O tema foi muito bem abordado. Essa formação veio somar”.


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Mascote

Para abordar o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) de forma lúdica com os alunos foi lançado, durante a formação, o concurso para criar o mascote do Peti de Cariacica. A ideia é trabalhar o que é o programa, o que é trabalho infantil, quais são as suas piores formas e tentar vencer os mitos relacionados a essa prática. A proposta é que os alunos criem um personagem e deem um nome a ele. Em maio o mascote será escolhido e produzido, no dia 12 de junho ele será apresentado a cidade.


Erradicação


A referência técnica do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) em Cariacica, Ruth Knaak, afirma que um dos indícios do trabalho infantil é a ausência escolar e falta de rendimento, por isso, a importância de trabalhar a temática com os pedagogos. “O Brasil pactuou que vai erradicar o trabalho infantil então a gente precisa erradicar até 2025 e o programa dentro de Cariacica busca informar, mobilizar, enfrentar e erradicar”, diz.


Para cumprir essa meta e potencializar as ações de erradicação que já existem, Cariacica está criando uma nova equipe de trabalho que será composta por referência técnica, pedagogo, assistente social e auxiliar administrativo.


“Temos feito campanhas de informação e mobilização junto a Polícia Rodoviária Federal, em feiras livres, na Ceasa, e também campanhas de conscientização e mobilização para o dia 18 de maio e para o 12 de junho, que são os dias de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e Dia Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, respectivamente”, explica Ruth.


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Cultura


Na concepção de Ruth o trabalho infantil, no Brasil, é um problema cultural e, para além das altas taxas de analfabetismo, ela enumera outras consequências oriundas da atividade ilegal.


“Essas crianças e adolescentes têm inúmeros problemas físicos, sociais e psicológicos todos em decorrência do trabalho.  E a  criança estar fora da escola ou até estar na escola, mas em outro momento estar em situação de trabalho é um prejuízo, porque ela vai para a escola, mas não consegue acompanhar”.


A Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (Oit) listou as piores formas de trabalho infantil. No rol estão o trabalho na rua, a exploração sexual, o narcotráfico, o trabalho em carvoaria e o agrícola. Contudo, Suzane acredita que todos os trabalhos que trazem um prejuízo moral ou físico para a criança estão classificados dentro das piores formas. “Não dá para dizer que um é pior que o outro, todos são igualmente cruéis”, avalia.


Questionada sobre as formas de erradicação do trabalho infantil, a magistrada é enfática. “Depende da idade e da capacidade de compreensão dessa criança”. Ela defende que na primeira idade, depende muito da família e do interesse que a escola desperta. Já na adolescência o consumo está entre os principais motivos.


Suzane e Ruth são unânimes ao afirmarem que uma das formas de erradicação passa pela transferência de renda. “As famílias precisam estar inseridas nos programas e tem outras formas também: garantindo educação para essas crianças porque elas vão poder se profissionalizar e vão conseguir depois um espaço no mercado de trabalho, a gente precisa dar cultura, porque isso ajuda na formação do ser humano, dar saúde...”, enumera Ruth.