135 anos de Cariacica: moradora completa 100 anos repletos de amor pela cidade 


No mesmo mês que Cariacica comemora seus 135 anos de história, uma moradora da cidade completa 100 anos de vida. Ela viu Jardim América, bairro onde mora há 70 anos, crescer e se desenvolver. A cidade faz aniversário no dia 24 e ela no dia 12 de junho.


 


Dona Florinda Tononi, conhecida como dona Flor, viu as ruas, que antes eram de barro, serem pavimentadas. Ela viu a construção de residências e viu várias gerações de famílias se formarem e se multiplicarem.


 


Uma das conquistas que mais marcaram a memória de Dona Flor foi a construção da  Unidade Básica de Saúde (UBS) de Jardim América. “Aquilo ali é a coisa mais linda do mundo”, diz ela.


 


A UBS foi inaugurada em 9 de dezembro de 1971 e, à época, era uma referência de atendimento à população. Com o passar dos anos, a estrutura ficou sucateada e os problemas na estrutura física se acumularam.


 


Em 2021, os olhos de Dona Flor brilharam com a entrega da primeira etapa da reforma do espaço. Em 2023, a entrega da reforma completa foi um sonho para ela, que viu a UBS ser erguida, tijolo a tijolo, pois mora quase em frente ao “centro de saúde”, como ela chama.


 


Dona Flor tem uma história de amor com a UBS e com a cidade de Cariacica. Ela, cujo registro de nascimento mostra que é de Santa Teresa, viveu a infância em Colatina. E foi nas águas do Rio Doce que aprendeu o ofício de lavadeira com a mãe, dona Maria Rosa da Conceição, uma filha de ex-escravizados e que se casou com o agricultor Santo Tononi, um imigrante italiano.


 


Além de Florinda, que era a mais velha, o casal teve outros três filhos: Isabela, Valdivino e Miguel, que morreu ainda criança. O pai teve outros dois filhos do primeiro casamento, Angelim e Santina.


 


Com a morte do patriarca, ela e a família foram para Aymorés, em Minas Gerais, e, aos 30 anos, dona Flor se mudou para Cariacica. Passou seis meses em Alto Lage e logo se mudou para Jardim América, junto com a mãe e a irmã Isabela, onde vive até hoje.


 


A mãe de dona Flor, que perdeu a visão ao longo da vida e morreu aos 99 anos, animava a casa tocando sanfona. Com sacrifício, conseguiram construir sua casa, onde a família reside até hoje. É em sua residência que ela ainda guarda memórias de sua vida, como fotos dos irmãos e da mãe e até os quadros que Flor pintou em seu momento como artista plástica! Sim, ela já fez até uma exposição dessas obras.



Esse lado artístico ela coloca para fora até hoje, nas oficinas do Centro de Convivência da Pessoa Idosa (CCPI), equipamento da Prefeitura de Cariacica, onde participa ativamente nas aulas de artesanato, jogos de memória, música e teatro, por exemplo.



Vida profissional


 


Em um período de sua vida, Florinda chegou a trabalhar na limpeza de um banco e até ficava com a chave da agência. E, como guardiã da chave da “casa da moeda”, levou muita carreira de bandido querendo entrar no banco, mas ela conseguia se livrar de todos eles.


 


Na maior parte da vida profissional, Flor trabalhou como lavadeira, passadeira e até como babá. Virou família, amiga e até madrinha das crianças. Na casa da família Sampaio, ela foi, inclusive, a parteira do prefeito Euclério. “Ele é um filho para mim”, diz dona Florinda.



Família


 


Por falar em filho, dona Flor conta que não podia engravidar. Mas um dos seus orgulhos é ter gerado no coração a filha Marta, que foi para os seus braços ainda recém-nascida. Hoje, ela é avó de Gustavo, 16 anos, Maria Eduarda, 12, e Augusto, de 11 anos.


 


Com seu amor de mãe, cuidou para que a filha levasse os estudos a sério, sempre estudando em escolas do município. Flor se orgulha de ter uma filha advogada formada e que estuda Psicologia. Ela foi criada em Jardim América, primeiro nas ruas de terra e, agora, nas ruas pavimentadas. Antes, a filha nem tinha um lugar para brincar. Hoje, a família inteira desfruta das opções de lazer na região, como no Parque Delegado Oswaldo Viola, mais conhecido como Parque da Biquinha.



Lá, dona Flor curte cada canto, senta no balanço, caminha nas pistas, aprecia o lago com as carpas. Na sua cabeça, cheia de cachinhos brancos, ela pensa no seu século de vida, 70 deles em Cariacica. “Eu amo minha Cariacica”, disse.