Educação de Jovens e Adultos: uma porta aberta rumo ao sonho de aprender

A aposentada Dolores da Conceição Santos, 62 anos, não teve uma infância fácil. Aos 8 anos, era obrigada a trabalhar como babá para ajudar a mãe com as despesas de casa. Não tinha tempo para brincar e menos tempo ainda para estudar.


Aos 14 anos, se casou e, aos 15, teve o primeiro filho. Foram sete filhos seguidos, cinco deles ainda vivos. Tinha muita dificuldade para ler e até para fazer contas básicas de matemática. A vida foi seguindo e a cada dia os estudos foram ficando para um outro momento, mas sempre estiveram nos sonhos de Dolores.


E este momento chegou e o plano de ler e escrever começou a ser colocado em prática. A aposentada é uma entre os 2.159 estudantes matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA), da Secretaria Municipal de Educação de Cariacica (Seme). Destes, 23% têm mais de 50 anos.


Dolores estuda na sala de aula que funciona na Estação Cidadania e Cultura (Antiga Praça CEU), em Nova Rosa da Penha. A formação do grupo aconteceu a partir da articulação da Seme com Roniel Mônico da Silva, que é coordenador do espaço. Ele foi de casa em casa, fez uma busca em redes sociais e conversou com familiares pedindo indicação de alunas.


O trabalho resultou na turma de 17 alunos que começou a funcionar no ano passado, como parte do projeto Alfabetiza-Ação e neste ano avançou para o primeiro ciclo do primeiro segmento da Educação de Jovens e Adultos.


Odília Norberto é a pedagoga da EJA na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Zaíra Manhães de Andrade, escola que a turma está vinculada. A professora é Leidione Silva Brito, que consegue prender a atenção do grupo, formado em sua maioria por mulheres.


Orgulho da família


Entre as alunas também está dona Nenzinha, apelido de Maria Antônia dos Santos, uma pensionista de 75 anos. Ela é viúva, tem cinco filhos e não conseguiu avançar nos estudos. Além da satisfação de aprender a ler a escrever, ela também virou o orgulho da família.


Já para a aposentada Malvina de Araújo, de 85 anos, voltar para a sala de aula é motivo de satisfação própria. “Eu fui criada sem mãe, trabalhava na casa de uma família desde os 9 anos. Aos 12, fui resgatada por uma irmã e segui minha vida. Setenta e cinco anos depois, voltei a estudar. Hoje, já estou lendo e escrevendo melhor”.


Dona Jandira Bispo, 68 anos, vê outra vantagem em voltar a estudar já na terceira idade. “Aprender de novo não deixa nossa mente parada”.





Papel social


José Roberto Martins Aguiar, secretário de Educação de Cariacica, ressalta que a EJA tem um papel social importantíssimo de dar o acesso à educação a essas pessoas que tiveram sua trajetória interrompida por vários tipos de situações que as impediram de dar continuidade aos seus estudos.


Segundo José Roberto, cabe à Secretaria de Educação criar as melhores condições possíveis para que qualquer pessoa, de qualquer idade, que queira retornar e concluir o ensino fundamental, possa se matricular em uma das escolas da rede.


“Ficamos felizes com histórias como essas. Mas esperamos que os jovens que estão no ensino em idade regular não sofram com as mesmas dificuldades que os mais velhos enfrentaram. Queremos que eles tenham melhores oportunidades no futuro e essa estrutura a rede municipal tem oferecido”, concluiu José Roberto Martins Aguiar.


Rinaldo Pevidor, coordenador da EJA em Cariacica, acrescenta: "De acordo com Paulo Freire, 'a educação sozinha não transforma o mundo. Educação transforma pessoas. Pessoas transformam o mundo'. Nesse contexto, se encontram os educandos da EJA que funciona na Estação Cidadania e Cultura, pessoas que já estão experimentando a transformação de suas vidas por meio da leitura e da escrita".