Direitos Humanos realiza seminário sobre cultura da paz

Para fugir das agressões do marido, a hoje vice-presidente do Movimento de Mulheres de Cariacica (Momuca), Carmem Lourenço, pulou de um prédio de três andares, grávida de 7 meses. Naquele momento ela clamou por socorro e decidiu que não se calaria, e não se calou. Nesta quarta-feira (04), Carmem estava presente no Seminário Municipal de Direitos Humanos – Construindo uma Cultura de Paz, realizado no auditório Faculdade Pio XII.


Com a voz firme, ela expressou o sentimento que a fez estar ali.


“Justamente a violência contra a mulher, o feminicidio. Estou me sentindo assolada e impotente diante dessa situação que está acontecendo no Brasil, mexe-se na reforma da previdência e, eu me pergunto, porque não mexer no código penal com tantas mortes sem solução? Ao pular do prédio fui socorrida, mas a maioria das mulheres não são e as famílias continuam enterrando-as. Não podemos cruzar os braços e deixar a coisas continuarem acontecendo, a luta continua, precisa continuar”, conta ela, que também integra o movimento estadual Negritude Socialista Brasileira.


Entre os temas abordados educação em direitos humanos: conceitos possibilidades e desafios para a escola na construção da cultura de paz; relações étnico-raciais e educação: políticas antirracistas no município de Cariacica e gênero, violência contra a mulher e diversidade sexual: equívocos, violações e avanços na construção da cultura de paz.


“Elegemos esses temas porque os direitos humanos são transversais e passam por dentro de várias questões”, pontua a gerente de Direitos Humanos, Elizabeth Albuquerque.


Acompanhada de duas professoras, a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Stélida Dias, Margaret Jann, apresentou ao público o plano de ação, proposto pela Secretaria Municipal de Educação (Seme), desenvolvido na unidade. De acordo com ela, ao longo de 2019 os professores foram sensibilizados a trabalharem com suas turmas os vários conceitos ligados aos direitos humanos.


“Legislação, estatutos, como a sociedade pensa os direitos humanos, políticas públicas e ausência de direitos”, explica. Na avaliação de Margaret, trabalhar o assunto no ambiente escolar é um desafio contínuo.


“Tem que ser um exercício constante porque o individualismo está posto, as famílias não estão dando conta dos seus filhos devido ao trabalho, então a sociedade está apresentando relações endurecidas, temos que trabalhar o respeito, a escuta e o dar a voz ao outro, isso é um exercício”, pontua.  


Discussão


Elizabeth assinala que o seminário tem como missão ampliar a discussão sobre os direitos humanos em diferentes setores. Ela enfatiza que rejeitar a violência e aplicar a cultura da paz em ações cotidianas são os ingredientes-chave para a construção de uma sociedade mais justa.



“Olhar para o outro com empatia e generosidade é muito importante e falta isso nas pessoas, estamos em uma sociedade extremamente consumista em que o desrespeito e a violência estão cada vez mais exacerbados. A gente viu Paraisópolis, onde morreram nove jovens, a polícia fechou as rotas de saída, há uma violação dos direitos do outro. A pessoa acha que de posse de uma arma  tem licença para matar. Temos que repensar que sociedade é essa que nós temos e a que queremos, precisamos construir alternativas para nós e para os nossos descendentes”.