III Mostra de Arte e Cultura: ópera cômica "A Criada Patroa", de Marcelo Ferreira, é atração em três bairros de Cariacica

Uma ópera escrita no século XVIII vai ser atração inédita em Cariacica. A trama de "A Criada Patroa", do italiano Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736), está na programação da III Mostra de Arte e Cutura de Cariacica, realizada pela Secretaria Municipal de Cultura (Semcult) e que leva inúmeras produções artísticas a diversos bairros da cidade durante os finais de semana de setembro. O espetáculo cumpre turnê nesta quinta (26), às 10h, no Orfanato Cristo Rei, em São Francisco; na sexta-feira (27), às 14h, no anfiteatro da Praça CEU, em Nova Rosa da Penha e, no sábado (28), às 20h, no Centro Cultural Frei Civitella, em Campo Grande.


Na trama, a criada Serpina (papel da soprano Maristela Araújo) tenta levar o patrão, o burguês Uberto (o barítono Alessandro Santana), para o altar. Mas, para que o casamento aconteça, ela terá que armar uma série de situações para provocar o interesse e o ciúme no patrão. Aí é que entra a ajuda do mordomo Vespone (Marcelo Ferreira, que assina a direção), um criado mudo e atento a tudo o que acontece na casa.


A produção recebeu recursos da Lei João Bananeira, de incentivo cultural do município. O valor do recurso foi de R$ 21.700,00.


Dentro da proposta criativa do diretor teatral, ator, bailarino e jornalista Marcelo Ferreira, conhecido por subverter padrões e dar uma visão contemporânea mesmo a textos do passado, a ópera de 1733 também passou por adaptações. "Pra começar, eu mantive a ambientação no século XVIII mas coloquei elementos de nossa época pra gente fazer essa identificação, brincar com anacronismo. Por exemplo, o Uberto, que quer encontrar uma esposa, procura, num primeiro momento, num aplicativo de namoro. O mordomo Vespone limpa a casa usando um aspirador de pó. Além disso, os figurinos remetem ao teatro contemporâneo", descreve Ferreira. 


Outra opção foi a música que saiu do italiano e passou a ser cantada em português. "Essa é a primeira vez que a ópera será encenada no Espírito Santo com músicas totalmente em português. O acompanhamento é de William Lizardo ao piano. Mas se mantiveram a postura e a métrica da música lírica. Fiz isso para mais uma vez aproximar a ópera de toda e qualquer plateia, fosse vista por adultos ou crianças", explica. Tanto que a primeira apresentação será no Orfanato Cristo Rei para o público infantil. "Eles são o nosso futuro, as plateias do amanhã. E quer coisa melhor do que ter contato com uma ópera de forma divertida?", questiona.


Responsabilidade social


A  montagem coloca algumas observações e críticas do Brasil contemporâneo. "Na trama de Serpina em fazer ciúme no patrão ela espalha que arranjou um namorado, na verdade o mordomo disfarçado. E o namorado é um militar. Na peça, brinco com a questão de militares ganhando o protagonismo, seja na vida social como na politica", desenvolve, acrescentando que com bom humor, para criticar a conturbada situação política por que passa o país.


A opção por levar a ópera para além de palcos de teatros tradicionais vai da função social da artista, que ele acredita ainda mais necessária nos tempos atuais. "O ator tem que ir onde o povo está. Estamos em uma época complexa para as políticas públicas, em que a população está sendo muitas vezes deixada de lado. Cariacica, por exemplo, só aparece na mídia com o foco voltado para a violência. As tropas da Força Nacional estão cuidando da segurança da cidade. Precisamos mudar esse quadro e a cultura é o melhor remédio”, reforça.


A segunda sessão da peça acontece na sexta (27), às 14h, na Praça CEU, em Nova Rosa da Penha. "É um bairro com altos índices de violência. É importante levar uma ópera popular, que aborda temas sociais, para lugares assim. Você não deve menosprezar a capacidade das pessoas para novas experiências. Levamos informações para locais onde elas quase nunca chegam. Exercer a cidadania é isso", complementa.


Quem é Marcelo Ferreira


Diretor teatral, ator, bailarino, jornalista, Marcelo Ferreira é figura presente na cena teatral do Espírito Santo. Criador da Companhia de Teatro Urgente em 2003, é conhecido por trabalhos conceituais e adaptações com linguagem contemporânea. 


Foi assim com a nova roupagem de "Nosferatu" (2007) e "Metrópolis" (2008), clássicos do expressionismo alemão, "Godot" (2004), adaptação do clássico "Esperando Godô", de Beckett, "Ópera Pobre" (2013), livre adaptação de "Ópera dos Três Vinténs", de Bertold Brecht, entre outros.


Atualmente é professor da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames).



Serviço:


"A Criada Patroa"


Ópera baseada em "La Serva Padrona", de Giovanni Batista Pergolesi (1710-1736).


Adaptação e direção: Marcelo Ferreira


Elenco: Marcelo Ferreira, Maristela Araújo e Alessandro Santana.


Piano: William Lizardo.


Quando: quinta (26), às 10h, no Orfanato Cristo Rei, rua Irmã Marcelina, 15, São Francisco. Sexta (27), às 14h, na Praça CEU, em Nova Rosa da Penha. Sábado (28), às 20h, no Centro Cultural Frei Civitella, Av. Expedito García, 218, Campo Grande, Cariacica.


Quanto: gratuito. 


Informações: 3346-6343.