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Luto nas letras em Cariacica: Sérgio Blank, a poesia pé no chão e o ativismo pela literatura

O poeta Sérgio Blank foi encontrado sem vida em sua casa na última quinta-feira (23). A Polícia Civil passou a investigar a causa da morte. Em resposta ao falecimento do escritor e artista aos 56 anos, a Prefeitura Municipal de Cariacica decretou luto oficial por três dias. Nascido e criado e morador de Campo Grande, Blank foi o primeiro autor e primeiro imortal de Cariacica na Academia Espírito-santense de Letras (AEL). Ocupava a cadeira de número 9 e sua posse, na quarta-feira desta semana, completava exatamente um ano. Títulos à parte, o que o deixou conhecido e celebrado foi sua produção literária no terreno da poesia contemporânea. Lançou o primeiro livro aos 20 anos e frequentou a lista de lançamentos capixabas ao longo das décadas de 80 e 90. Foram seis livros em 12 anos. Dessa época saíram "Estilo de Ser Assim, Tampouco" (1984), "Pus" (1987), "Um" (1989), "A Tabela Periódica" (1993), "Vírgula" (1996). É dessa leva a sua única obra infantil, o inspirador "Safira" (1991), com a história de uma caneta que se descobre especial por ter "sangue azul" e poder escrever histórias por aí.  De 1996, o autor não lançou mais inéditos até 2018, quando finalizou "Blue Sutil", um curioso apanhado de suas trocas de textos e mensagens nas redes sociais com seus amigos escritores. Nesse intervalo, ele reuniu toda a sua produção na coletânea "Os Dias Ímpares", em duas edições: em 2011 e em 2017, pela editora Cousa.  Mesmo sem lançar livros, ele não deixou de militar e trabalhar com literatura e produção de textos. Sérgio Blank era uma figura presente em projetos que agitavam o meio cultural e literário. Durante décadas, manteve uma oficina terapêutica movida à produção de textos e redação para pessoas inscritas num projeto da Prefeitura de Vitória voltado a quem tinha dependência química.  Na Biblioteca Pública do Espírito Santo, durante 13 anos, foi um verdadeiro "promoter" da instituição. Dizia que aquele acervo importante não merecia ficar escondido na Enseada do Suá. Tratou de deixar a biblioteca mais conhecida, promovendo eventos que incluíam visitas de estudantes, lançamentos e saraus literários no local, divulgação de trabalhos de novos escritores e contações de história para as crianças.  Sofrendo de uma cirrose hepática, aguardava um transplante de fígado. Mesmo com as limitações do tratamento e da doença, o poeta não deixou de viver o cotidiano cultural de Cariacica. Era figura cativa nos lançamentos literários e eventos dos artistas da cidade. Nos últimos anos, ele também surpreendeu ao mostrar que poeta de verdade não vive de classificações convencionais ou de preconceitos. Participava assistindo às batalhas de rimas, os "slams", promovidos pela juventude das periferias na cultura hip hop. Blank viveu seu credo de que a palavra está nos livros mas também está por aí, fazendo parte da vida e dos sonhos de cada um de nós. "A poesia calou-se. Estarrecida emudeceu em luto, como todos nós. Não, não será para sempre. Sua poesia continuará imortalizada", destacou Renata Weixter, a secretária municipal de Cultura, dentro da filosofia blankiniana de viver,  “𝘛𝘦𝘯𝘩𝘰 𝘱𝘰𝘳 𝘩á𝘣𝘪𝘵𝘰 𝘤𝘰𝘭𝘦𝘤𝘪𝘰𝘯𝘢𝘳 𝘨𝘦𝘯𝘵𝘪𝘭𝘦𝘻𝘢𝘴 𝘳𝘦𝘤𝘰𝘭𝘩𝘪𝘥𝘢𝘴 𝘯𝘰 𝘤𝘰𝘵𝘪𝘥𝘪𝘢𝘯𝘰. 𝘎𝘶𝘢𝘳𝘥𝘰 𝘯𝘰 𝘣𝘰𝘭𝘴𝘰 𝘥𝘢 𝘤𝘢𝘮𝘪𝘴𝘢 𝘶𝘮 𝘱𝘶𝘯𝘩𝘢𝘥𝘰 𝘥𝘦 𝘱𝘰𝘦𝘮𝘢𝘴 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘤𝘢𝘥𝘢 𝘴𝘶𝘴𝘵𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢 𝘰𝘧𝘦𝘳𝘵𝘢. 𝘌𝘴𝘴𝘦 é 𝘰 𝘮𝘦𝘶 𝘮𝘢𝘪𝘰𝘳 𝘦 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘤𝘢𝘳𝘰 𝘴𝘦𝘨𝘳𝘦𝘥𝘰. 𝘌 𝘵𝘢𝘭𝘷𝘦𝘻 𝘮𝘦𝘶 𝘱𝘦𝘤𝘢𝘥𝘰 𝘥𝘦 𝘦𝘴𝘵𝘪𝘮𝘢cão.” (Sérgio Blank, 1964-2020) Obras de Sérgio Blank Poesia  Estilo de ser assim, tampouco, edição alternativa promovida pela Fundação Ceciliano Abel de Almeida/Ufes (1984) Pus, Fundação Ceciliano Abel de Almeida/Editora Anima (1987) Um, Cultural-ES (1989) A Tabela Periódica, Secretaria de Produção e Difusão Cultural/Ufes (1993) Vírgula (1996) Em 2011 e 2017, publicou sua obra completa sob o título "Os dias ímpares"  (editora Cousa). Blue Sutil (2018) –  reunião de escritos feitos nos últimos dois anos, compartilhados com amigos nas redes sociais. Literatura para crianças Safira, Vitória: Departamento Estadual de Cultura, 1991; Vitória: Cousa, 2015.